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Mais de 800 mil pessoas vítimas de rede de lojas de luxo falsas operada a partir da China – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Mai 8, 2024

Na busca pelo presente perfeito ou pela próxima peça de roupa a estrear uma redução de 50% do preço de mercado é tentadora, ainda mais quando o artigo é de uma marca de luxo. Foi o que aconteceu com pelo menos 800 mil clientes online, na Europa e Estados Unidos da América (EUA), que se depararam com sites apelativos de alegada revenda de marcas de renome, desde Dior a Hugo Boss. Quem foi burlado cedeu os dados pessoais e bancários, pagou pelos artigos, mas nunca os recebeu. Do outro lado do ecrã, estava uma rede com dezenas de milhares de lojas falsas operada a partir da China.

As conclusões são de uma investigação internacional levada a cabo pelos jornais The Guardian, Die Zeit e Le Monde que, em parceria com o Chartered Trading Standards Institute, do Reino Unido, colocam a descoberto uma das maiores burlas online orquestrada a partir de 76 mil sites falsos. Um núcleo de programadores, sediado na província chinesa de Fujian, terá criado, em 2015, um sistema automático de criação e lançamento de sites, permitindo uma rápida propagação dos mesmos. Se numa fase inicial, algumas das lojas a integrar o sistema eram fidedignas, depressa o sistema permitiu que outros grupos, com intenções diferentes, o operassem.

O conjunto de dados examinados por repórteres e peritos em tecnologias da informação indica que a rede é altamente organizada e que recorre à Inteligência Artificial, permitindo a continuidade da atividade criminosa. Os programadores criaram dezenas de milhares de lojas falsas que oferecem produtos com desconto da Dior, Nike, Lacoste, Hugo Boss, Versace e Prada, entre outras marcas.

O grupo terá tentado roubar até 50 milhões de euros durante este período. Muitas lojas foram abandonadas, mas um terço delas, mais de 22 mil, ainda estão ativas.

Melanie Brown, uma inglesa de 54 anos, estava à procura de uma nova mala de mão no Natal passado quando se deparou com a peça original, em pele, a ser vendida com uma redução de 50% em relação aos valores que tinha encontrado até então. Não hesitou em adicionar o item de 100 libras ao carrinho de compras online e admitiu ao jornal inglês a “atração” pelas restantes pechinchas que encontrou no site. No final de contas, acabou por gastar 1.200 libras na encomenda, sem que lhe tenha sido entregue nenhum dos itens.

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O consórcio de jornalistas ingleses, alemães e franceses entrevistou 49 pessoas que, tal como Melanie, dizem ter sido burladas. Os diferentes relatos permitem concluir que os sites não serviam para vender produtos de contrafação, caso que não é raro, e ainda mais tendo em conta os preços reduzidos dos artigos de luxo. Os bens comprados simplesmente não chegavam ao seu destino porque não existiam. As vítimas da burla que receberam artigos depararam-se com itens de valor reduzido e distintos dos que adquiriram. Óculos de sol baratos, falsificações de anéis da Cartier ou peças de roupa sem marca foram algumas das peças enviadas.

Se nestes casos quem recebeu a encomenda errada perdeu o dinheiro, muitos dos que tentaram fazer compras nunca foram prejudicados financeiramente — ou sistema bancário bloqueou o pagamento ou a loja falsa não o processou. No entanto, se não houve dano financeiro em muitos casos, a entrega de dados pessoais foi comum a todos os clientes que acederam à plataforma e acabaram a tentar comprar algum dos produtos à venda.

Temu. Que empresa chinesa é esta que inundou as redes de “pechinchas” e trava uma guerra com a Shein

Estima-se que 800 mil pessoas, quase todas na Europa e nos EUA, partilharam endereços de correio eletrónico e que cerca de 476 mil partilharam dados de cartões de débito e de crédito, incluindo o número de segurança de três dígitos. Todas elas forneceram os seus nomes, números de telefone, correio eletrónico e endereços. De acordo com Katherine Hart, uma das responsáveis pela investigação, pode estar em causa a recolha de dados que possam facilmente ser utilizados mais tarde contra as pessoas, tornando os consumidores mais suscetíveis a tentativas de phishing.



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