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O PS também nos atira ovos – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Set 30, 2023

Na passada terça-feira, o ministro Duarte Cordeiro foi atacado com ovos cheios de tinta verde. O acto deve ser condenado, a agenda ideológica por trás destes desacatos denunciada e a reacção do ministro, louvada. Reconhecido deve ser também o despertar do PS para este tipo de comportamentos que agora são, nas palavras de António Costa, ineficazes.

Até porque o PS está farto de nos atirar ovos à cara. Digo, o PS porque o país parece que gosta de levar com eles. Um, bem forte, foi o processo da TAP. Independentemente daquilo em que se acredita, o dilema que a TAP representava para Portugal tinha sido resolvido em 2015. No entanto, o PS (num dos muitos custos da geringonça) decidiu reverter a privatização e nacionalizar a empresa. Pedro Nuno Santos chegou a dizer que “A TAP é do povo português para o bem ou para o mal”. Não só a tendência de um governante se considerar conhecedor da vontade não expressa de dez milhões de pessoas ser um vício do passado que julgava vencido, também não consta que a pergunta tivesse sido feita a qualquer um de nós. Independentemente disso, Pedro Nuno Santos estoirou na TAP 3,2 mil milhões de euros. Atenção que o problema não é só o que isso nos custa em impostos futuros. Foi o condicionamento do mercado, com os preços e qualidade dos serviços prestados não estarem a par do praticado noutros países; foi o tempo perdido durante o qual a concorrência tomou o lugar que a TAP acalentava nas ligações ao continente sul-americano e o seu posicionamento relativamente aos grandes grupos actualmente existentes. É impressionante como, ao mesmo tempo que falava da sua importância, a classe política do PS demonstrou uma total falta de estratégia nacional.

Este ovo bateu-nos na cara na última quinta-feira. Nesse dia, o governo do PS anunciou a privatização da TAP. Já não era sem tempo, embora o custo político para o PS que foi a comissão parlamentar de inquérito tenha sido relevante para a tomada de decisão. E é precisamente isso que a torna ultrajante. Não foi o dinheiro gasto, a interferência política em decisões empresariais que não cabem aos políticos, os danos causados numa empresa, o risco que tal representa para os postos de trabalho. O motor da privatização pode ter sido simplesmente este: para um socialista a TAP até pode ser estratégica para o país, mas se for prejudicial para o PS, torna-se descartável. A falta de critério com que o PS atacou quem argumentou contra a nacionalização da companhia e a incapacidade de reconhecer um erro é apenas um sinal disso mesmo. As jovens que atingiram o ministro Duarte Cordeiro serão provavelmente punidas pelo que fizeram. Já cada um de nós levou na face uma ofensa muito maior, mas a culpa morrerá solteira. Pior: ficará a cargo da vítima. O tal povo, esse ser imaginário em nome de quem, alguém que se julga uma luminária se arroga o direito de falar e decidir sozinho que deve ser dono de uma companhia área. Para o bem o para o mal a TAP era dos portugueses: para o bem do PS e para o mal dos serviços públicos que o Estado não presta em condições. No fundo, são prioridades a que temos de nos habituar.

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